Tempos Modernos: Luzes da Cidade

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Luzes da Cidade

Sala escura. Uma luz tênue revela a orquestra. Ao fundo, uma grande tela branca. Primeiros acordes. Expectativa. A figura de um doce vagabundo surge espalhando risos. O som acompanha o caminhar que vai, aos poucos, revelando a cidade. Flores. O olhar estático parece penetrar o espectador envolto pelo doce aroma que exala da tela. Iluminada.

Tatiana Pacheco

Lausanne (Capitole), 29 de agosto de 2012.

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Tempos Modernos - Estudo de Lugares

Na década de 1930, o vislumbramento de novas tecnologias para o desenvolvimento e progresso prometiam uma vida mais feliz para o homem, onde a máquina seria um aliado.

Porém, com o passar do tempo isso se mostrou ilusório. O homem se deixou “engolir pela máquina”, deixando de lado a sensibilidade em troca do excesso de racionalidade.

O projeto de intervenção urbana proposto por nós, tem como base a filosofia e a estética presentes no filme Tempos Modernos (1936) de Charles Chaplin. Tal obra apresenta o retrato de uma sociedade massificada e em crise, onde o indivíduo dificilmente encontra o seu lugar.

O filme tem início com os créditos superpostos à imagem de um relógio, o que nos remete ao filme Metrópolis (1927) de Fritz Lang. Em ambos, o tempo marca inexoravelmente a vida dos operários da fábrica. Estes, devido à busca incessante pela produtividade, tornam-se escravos de um sistema imposto pela mesma máquina que, como se pensava, tornaria o trabalho menos árduo e permitiria ao homem usufruir melhor a vida.

Em Tempos Modernos acompanhamos a desumanização imposta pelas máquinas que culmina na perda da sanidade da personagem Carlitos. Aliado a isso, observamos uma aceleração de diversos elementos como os gestos e o caminhar das personagens, e as próprias máquinas que terminam por entrar em colapso.

A observação de aspectos do filme como a presença constante dos relógios marcando a submissão ao tempo, o figurino e gestual de época, e o uso de PB, levou ao desenvolvimento do projeto cujo objetivo principal é promover o deslocamento e a desaceleração do tempo, por meio da simplicidade dos gestos, das sensações e da escolha de cenários urbanos cuja arquitetura nos remeta a um passado não muito distante.

Para tanto, trabalhamos com intervenções urbanas onde utilizamos um figurino inspirado na década de 1930, nas cores preto e branco, criando, propositadamente, um contraste com o ambiente escolhido. O deslocamento no espaço é lento, com gestos sutis e delicados, longas pausas contemplativas, além de uma postura condizente com a época referida.

Além disso, o projeto prevê a documentação do trabalho por meio de vídeos, fotos e textos por nós elaborados, sendo os últimos, observações pessoais baseadas nas sensações e percepções de cada uma. Essa documentação será avaliada, editada e postada em um blog.

Por fim, pesquisamos ainda a possibilidade de intervir nos espaços através da colocação de objetos cênicos, bem como a utilização de estímulos musicais e textos, com o objetivo de observar como estes interferem no local e nos transeuntes.

Referências

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a modernidade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1996. 70p.

CHAPLIN, Charles. História da minha vida. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1965. 512p.

RIAMBAU, Esteve. Tempos Modernos. Os Grandes Filmes de Chaplin, Barcelona, vol.2, 1997.

RUSSEL, Bertrad. Elogio do Lazer. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

Filmes em DVD

Boulevard do Crime / Les enfants du Paradis. Dir. Marcel Carné. Preto e Branco, 190 min. Pathé, FRA, 1945.

Metropolis. Dir. Fritz Lang. Preto e Branco, 148 min. UFA Production / Paramount Pictures, ALE, 1927.

Tempos Modernos / Modern Times. Dir. Charles Chaplin. Preto e Branco, 87 min. United Artists, EUA, 1936.