Atravesso o portão. Começo a
caminhar mais lentamente. Detenho-me perante a porta. Observo as paredes
brancas, os detalhes da construção.
Busco inspiração na tentativa de atingir um outro estado. Sei que é
necessário transpor o portal do tempo. Lembro-me de um filme de Wood Allen.
Seria essa a busca? À medida que subo as escadas o ruído de vozes se faz
presente. Chegam como uma massa sonora mescladas aos sons do piano. Entro na sala, mas pareço imperceptível. Há
certa invisibilidade no mundo contemporâneo que nos protege. Isola? Sigo
caminhando. Os gestos são lentos, o olhar contempla o ambiente, mas não encontra
outros olhares. Parece que me desloquei no tempo. Ao redor tudo segue igual: os
mesmos sons, as mesmas pessoas, a mesma indiferença. Porém, meu corpo parece
estar tomado por uma espécie de torpor. Tento me fixar nas fotografias, contudo
há uma névoa que tudo embaça. Sigo caminhando. Não sei há quanto tempo estou
assim, movendo-me lentamente através da névoa. De repente sinto uma alteração
no espaço. Percebo olhares, fotos sendo tiradas, um som mais brando. Alguns
rostos se iluminam, as feições tornam-se mais suaves, os olhares mais
contemplativos. Transformação.
Santos (Pinacoteca Benedito Calixto), 07 de Fevereiro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário